Havia até a expressão mamão com açúcar, que não tinha gosto de nada, absolutamente sem graça.
Caqui, sinônimo de cica. Na uva só se dava uma chupada azeda e se cuspia casca, caroço e todo oresto.
Abacaxi, a própria acidez, seus olhos eram verdadeiros lança-chamas, enchendo de áfitas nossas bocas.
Manga só chupar nu numa banheira, tal a lambança, deixando os dentes cheios de fiapos.
Outra expressão: bicho de goiaba, goiaba é, aconselhava comê-la de olhos fechados, com bicho e tudo.
Não existia suco de laranja: sempre azeda, só se misturada com água e açúcar para fazer laranjada.
Maçã cheia de pedras. Pêra muito aguada. Ameixa, cereja, e outras nem existiam.
A banana era soberana: pura, amassada com açúcar e aveia, frita, assada, caramelada, em pasta , em calda,
à milanêsa. Vários tipos: ouro (espremida na casca,como pasta de dentes), prata, maçã, são tomé, nanica
(enorme, nanica era a bananeira), da terra e cada região tinha sua banana particular.
É verdade que perdemos ótimas frutas: do sapoti só restou a Ângela Maria; abiu; maracujá, cajá-manga,
carambola ( visual melhor que o gosto), jabuticaba ainda resiste; do caju ficou a castanha.
Hoje comemos mamão delicioso, sem açúcar; do caqui vai até a casca, nem se sabe o que é cica;
abacaxi sem olhos nem acidez; manga sem fiapos; goiaba sem bicho. E com o advento do liqüidificador
chegaram os sucos maravilhosos.
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A revolução do vestuário aconteceu: toda camisa era branca e de botões, pelo menos seis, se social,
com mais dois para os punhos ou abotoaduras. Cueca com dois botões; braguilha quatro, 2 na cintura.
Os pessimistas alem de cinto, suspensórios, mais seis botões. Para ir na cidade ou no São Luiz :
paletó três botões ou o jaquetão com quatro. Os elegantes, mais uns cinco botões para o colete,
e três laços: na gravata e nos sapatos.
De repente foi abolido o terno, veio o mocassim, o zíper, a cueca tipo-jóquei, a camiseta hering, a calça com 
elástico ou apenas com um botão. Os 36 movimentos anteriores foram reduzidos a dois: zíper e velcro.
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Havia um halterofilista, ninguém mais pensava em malhação ou esporte-saude. Outro só pensava em 
cinema: sabia os filmes, os artistas e, o mais importante, as maneiras de penetrar nos cinemas ( no metro 
copacabana era visto por quem passava na rua.) Os dois gêmeos, vestidos iguais, iam para a Cinelândia
cada um num cinema, no intervalo saiam pra comprar pipoca e trocavam. Futebol e praia era o mínimo
múltiplo comum.  O que ia a missa virou bispo. Sexo muito falado e nada praticado: antes dos anos
permissivos, sem penicilina nem pílula, só medo de pegar doença ou filho. Veado só muito enrustido
e quem o seguia era machão,  pegava bonde andando e falava palavrão. Na aparência não havia a
unanimidade de hoje: uns eram desleixados e outros arrumadinhos. No cabelo uma divisão básica:
a turma da glostora,  gordurosa e a do gumex: cabelo colado. No corte três variedades: príncipe danilo,
 jaquetão (cruzando na nuca) ou três-botões, formando o rabo de pato. Só um se interessava por
política, era getulista, os outros, levemente anti-getúlio, não a ponto de discutir. O músico recebeu
 consagração internacional,os demais sabiam letras de carnaval e uns foxes americanos.
O penetra em festinhas-de-sábado : saia de paletó e gravata, procurando no bairro onde tivesse uma.
Droga era sinônimo de porcaria, só no carnaval umas prises de lança-perfume.
Hoje com inconfortáveis, duros, quentes e apertados jeans, tênis fedorento, camisetas da moda.
Sempre iguais: cabelo raspado ou muito comprido, malham e não se interessam por política.
Música bate-estaca. Meio místicos, esotéricos, com religiões alternativas e até as tradicionais.
Viados e machões são entendidos. A AIDS assustou um pouco as ficadas.
Homogeneizados mas, incontestavelmente, umas meninas lindas, saudáveis, tudo perfeito.
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