Hermann Hess
Considerando que as leis foram feitas, para nos escravizar,
Resolvemos não mais cumpri-las, para não ser mais escravos de ninguém.
Considerando tanta gente sem casa e tantas casas sem gente,
Resolvemos nelas nos alojar e nunca mais em tocas morar.
Considerando tanto carvão sobrando quanto sobrando está nosso frio,
Vamos já dele nos apropriar para aquecer nosso brio.
Considerando salários baixando, na proporção dos lucros crescentes,
Resolvemos que usinas e fazendas vão produzir sem vocês.
Considerando esquecidas as repetidas promessas dos governantes,
Resolvemos governarmos nós mesmos nossas vidas sem as benesses.
Considerando os sofrimentos da fome e a constante exploração,
Resolvemos quebrar a tênue vitrine que separa da fome, o pão.
Diante dos seus potente canhões, enfrentaremos nossa sorte,
Temendo mais a miséria do que nossa própria morte.
E se nossas vozes já roucas não bastam ,
Outras vozes mais roucas falarão pelas bocas dos canhões.
Jacques Prévert
Honestíssimos cocheiros, atrelam em suas carroças seus amigos serviçais.
Eles não usam chicote, mas penduram numa vara uma cenoura escarlate.
Aos centauros atrelados, os cocheiros estimulam com vivas à liberdade.
E os centauros galopando, pelos caminhos da fome,
sem pensar em se deter, sem se deter para pensar.
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- A ignorância não é coisa que se aprenda
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- Muitos empreendimentos exigem como sistema uma cuidadosa falta de método.
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- Veja quanta gente inveja o oceano.
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- A morte é um muro cego onde, finalmente, se entrechocam tantas cabeças torturadas de perguntas.
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- Amai-vos uns sobre os outros.
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- Meu nome está escrito na sola dos meus sapatos. A sola vai se gastando, meu nome vai se apagando.
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- Tenho certeza que o meu mal se esconde, muito mais nos outros do que em mim próprio.
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- Luiz XIV fugia dos espelhos, temia insolação.
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- Um fantasma bem educado não chama sua mulher de “minha viuvinha”.
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- São João Batista, balançando a cabeça: - Minhas saudações, Salomé.
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- E quando todos matarem todos, as máquinas falarão dos homens,
maquinalmente, como eles falavam dos deuses..
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- A guerra seria uma dádiva dos deuses se só morressem os profissionais.
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- Tese, antítese e prótese: recapitar Luiz XVI.
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“Até a vista” se despediu o cego.
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- Depois do medo da morte, a morte do medo e, finalmente, a vida.
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- Indagavam por que Rimbaud parou de escrever,
mas não sabiam porque Rimbaud começou a escrever.
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- Que Deus é esse que precisa repousar ?
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Manoel de Barros (poeta mineiro)
Arte poética
Eu te dei terra onde enterrar teus ossos e mais ponteiros que o relógio tinha,
para marcar uma hora de destroços: não essa hora de todos, mas a minha.
E depois te cobri com não ter panos e fiz-te andar, porque roubei teu solo.
Deixei-te jovem: avancei teus anos, e a dor do mundo arremessei-te ao colo,
Traz-me tua morte para que a destrua. Chega teu rosto porque me falta ungi-lo
com minha morte que nasceu da tua, pois sou tua sombra e teu algoz tranqüilo.
tão tua sombra, que sou noite escura, e tão tranqüilo que já sou loucura.
-Dircinha na parede
O trem no emaranhado de suas linhas, desfazendo mil sonhos de casório,
carregava mineiras de ar simpático para longe de roças e igrejinhas..
Meeting das empregadas das vizinhas, o quarto microcosmo da empregada.
Delírio, desvario, misturada de retratos de artistas e calcinhas.
Assim passaram dias, meses, anos, momentos altos e desertos planos.
E o quartinho de longe a nos chamar a Dircinha Batista na parede,
em nossa boca a indefinível sede e uma esperança indefinível no ar..
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(a velhinha inglesa encontra estes versos
de um antigo admirador)
quando você bem velhinha e grisalha, sonolenta, junto ao fogo da lareira
pegar este livro para ler devargarinho, seus olhos, cercados de sombras,
sonharão com seu antigo e suave olhar.
Muitos amaram aqueles seus momentos cheios de graça e alegria.
Muitos amaram, de verdade e de mentira, sua beleza.
Mas apenas alguém amou na sua alma peregrina
cada tristeza marcada no seu rosto.
